segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tomazi, Welter e a religiosidade de São João Maria

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A MÍSTICA DO CONTESTADO

A mensagem de João Maria na experiência
religiosa do Contestado e dos seus descendentes

Mestrado em Ciências da Religião/PUC-SP

GILBERTO TOMAZI

RESUMO

O Contestado é um dos maiores movimentos populares e conflitos armados da história do Brasil. Ele aconteceu durante os anos 1912 a 1916 e abrangeu uma região que equivale à terça parte do território catarinense e o sudoeste do Paraná. Além de sua amplitude geográfica, do tempo prolongado da guerra, impressiona o fato de que o mesmo tenha envolvido diretamente algumas dezenas de milhares de pessoas e milhares de mortos. O Contestado marcou e continua ainda hoje a influenciar a vida, a cultura e a religiosidade dos que dele sobreviveram e seus descendentes.

Essa dissertação estuda e explica a mística do Contestado, desde uma perspectiva simbólica-cultural e a partir da recepção e ressignificação atuais da mensagem de João Maria. Esta mística e esta mensagem sobrevivem em diversas expressões e representações religiosas dos descendentes do Contestado. Resgatá-las, desde as suas origens até os dias atuais, é o caminho percorrido por esta dissertação.

Em torno do Contestado e da mensagem de João Maria surgiram diversos mitos, ritos, símbolos, sacrifícios e rezas que ainda hoje são conservados na memória popular dos descendentes do Contestado e reinterpretados em sua experiência religiosa. Depois de quase um século, o próprio Contestado já foi ressignificado de tal forma que a comunidade cabocla encontra nele um sentido, uma inspiração e uma mística que lhe permite viver no presente de maneira solidária, com estima e reconhecimento, enfrentando a dura realidade em que se encontra, confiante em dias melhores.

Depois de uma revisão e análise bibliográfica, resgatando aspectos históricos, geopolíticos, sócio-econômicos e, especialmente, culturais e religiosos do Contestado, foram emprestadas as informações mais preciosas desta dissertação, contidas nos relatos de pessoas do povo, que guardam viva a memória da mensagem e da mística de João Maria. Com isso foi possível trilhar um caminho de resgate e valorização da cultura e da experiência religiosa e popular do Contestado.

Íntegra (PDF)

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Artigo de Gilberto Tomazi (18 páginas) intitulado A MENSAGEM DE “SÃO” JOÃO MARIA: E SUA RESSIGNIFICAÇÃO NA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA DO CONTESTADO. Confira.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
 
O PROFETA SÃO JOÃO MARIA  
CONTINUA ENCANTANDO NO MEIO DO POVO

 
Um estudo sobre os discursos contemporâneos
a respeito de João Maria em Santa Catarina


Tânia Welter

Resumo

Este é um  estudo sobre os discursos contemporâneos a respeito de João Maria em Santa Catarina, sul do Brasil. Partindo da noção de  discurso como ação humana significativa (Ricoeur), afirmo que os discursos a respeito de João Maria são construídos pelos joaninos a partir de sua cultura histórica (formada por valores, símbolos, imagens, personagens, eventos contextuais e um catolicismo difuso), possuem temporalidade, expressam algo e são disponibilizados para outras  leituras e  interpretações. É o próprio discurso dos joaninos que serve como mecanismo de  legitimação de João Maria, dos discursos atribuídos a ele, dos próprios discursantes (joaninos) e de sua cultura histórica. João Maria é visto, neste trabalho, como evento fundante, em torno do qual gravitam  muitos sentidos, e como entidade multivalente, identificado como Deus, Jesus Cristo, Profeta, Santo  ou símbolo da  luta pela terra. Legitimados, os discursos a respeito de João Maria apresentam-se como adequados na interpretação do mundo dos joaninos, no controle da indeterminação do mundo, para anunciar e acabar com o mal, reagir contra aquilo que não está de acordo com sua cultura, estimular a luta política ou anunciar o mundo desejado.  

Íntegra (PDF)




quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AS PALEOTOCAS DE PORTO UNIÃO

 
 Caverna usada pelo monge foi
aberta por uma preguiça gigante



Preguiça gigante (Glossotherium robustum). Por Renato Lopes

Por Celso Martins (texto e fotos)

A caverna usada pelo monge João Maria* em Porto União-SC é, na verdade, uma paleotoca, ou seja, uma "toca cavada por animais extintos que viviam em parte em abrigos subterrâneos", possivelmente uma preguiça gigante, segundo o geólogo Heinrich Theodor Frank. As outras duas tocas existentes ao lado da maior surgiram pela ação de tatús gigantes, animais com até 250 quilos de peso, segundo a mesma fonte.  Esses animais desapareceram a cerca de 10 mil anos. No caso de Porto União as tocas foram cavadas em rocha denominada Arenito Botucatu (a mesma do Aquífero Guarani).

Frank tomou conhecimento das tocas por uma postagem na primeira versão do blog Fragmentos do tempo  ("1983: João Maria e as cheias de Porto União", 29.11.2008). Interessado, fez contato e obteve outras imagens ao titular do veículo. Pouco depois retornou a mensagem confirmando as suspeitas iniciais. A descoberta foi publicada na revista Toca News, órgão oficial do Projeto Paleotocas.

O referido Projeto Paleotocas é desenvolvido um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP-SP), Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB-RS), Fundação Universidade de Rio Grande (FURG-RS), Universidade de São Paulo (USP-SP) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-RS). A iniciativa tem a coordenação geral do professor Francisco Sekiguchi de Carvalho Buchmann, da UNESP-São Vicente-SP. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, por uma questão de logística, a maior parte das atividades é coordenada pelo professor Heinrich Theodor Frank.
 
Existem dessas paleotocas em diversos países do mundo, estando presentes também em vários estados brasileiros. Em Santa Catarina foram identificadas e estudadas paleotocas em Urubici e localizadas várias estruturas nos municípios de Vidal Ramos, Leoberto Leal e Brusque. Também existem paleotocas em São Joaquim, identificadas inicialmente pelo paleontólogo Alceu Ranzi.

*Possivelmente João Maria de Jesus, considerado o segundo dos três monges do Contestado (João Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria de Castro Agostinho). Sabemos por pesquisas mais recentes (Paulo Pinheiro Machado, Ivone Gallo, Nilson Thomé etc) que muitos outros monges circularam pela região. Para o caboclo da região do antigo Contestado, entretanto, existe apenas um: São João Maria.

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Saiba mais:

PROJETO PALEOTOCAS


Contatos:
Telefone (Phone): 51.91665063 / 51.30320382
Email: paleotocas@gmail.com

Link da Sociedade Brasileira de Paleontologia

 




 
Localização da caverna usada por João Maria
Trecho do rio Iguaçu visto das cavernas de Porto União-SC