CARTA DO IRANI DENUNCIA
ABANDONO DA MEMÓRIA
DA GUERRA DO CONTESTADO
Patrimônio material e imaterial e as
populações remanescentes em risco
populações remanescentes em risco
O
atendimento às populações tradicionais remanescentes do Contestado, a guarda e
preservação da memória física do conflito, além do seu acervo documental, estão
entre as indicações da Carta do Irani, que acaba de ser divulgada.
“Como
resultado da sessão de Chapecó do Simpósio do Centenário do Movimento do
Contestado, publicamos a Carta do Irani, como uma mensagem política a respeito
da situação das populações remanescentes, das fontes, acervos e dos locais de
memória do Contestado”, resume o professor Paulo Pinheiro Machado, um dos
coordenadores do evento e que encaminhou o documento ao Daqui na Rede.
Abaixo,
na íntegra, o documento que tem a chancela da Universidade Federal da Fronteira
Sul, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Federal de Pelotas.
Carta
do Irani
Nós,
professores, estudantes e pesquisadores da área de História e demais Ciências
Humanas, participando de três sessões (na UFSC, entre 29 de maio e 1 de junho;
na UFPEL, entre 29 e 31 de agosto e na UFFS, entre 18 e 22 de outubro) do
Simpósio sobre o Centenário do Movimento do Contestado, reunidos ao longo deste
ano de 2012, preocupados com o estado e situação de acervos documentais, locais
de memória, patrimônio histórico e da população remanescente do conflito do
Contestado, alertamos a sociedade civil e conclamamos as autoridades públicas
(órgãos de Patrimônio e Memória, Poder Executivo, Ministério Público e Poder
Judiciário, das esferas municipais, Estaduais e Federal) para:
a).
A premência da implementação de políticas públicas de saúde, educação e terras
para a população remanescente do conflito, como forma de atendimento a cidadãos
que, por gerações, estiveram marginalizados dos benefícios da sociedade
brasileira. Considerando que os núcleos de remanescentes do conflito - e de
população tradicional do planalto meridional em geral - apresentam atualmente
os mais baixos índices de desenvolvimento humano do sul do Brasil (IDH,
conforme avaliação oficial);
b).
A urgência da defesa dos locais de memória e convivência das populações
tradicionais remanescentes do conflito em Santa Catarina, e em maior âmbito,
dos locais frequentados pelos devotos da tradição de São João Maria em todo o
sul do Brasil. Atualmente muitas fontes de “águas santas”, grutas, ermidas,
cruzeiros, antigos redutos, guardas e cemitérios precisam de defesa
institucional e recuperação e conservação, como locais de visitação, culto,
convivência e pesquisa científica;
c).
A necessidade da localização, preservação, guarda e colocação à disposição de
pesquisa de acervos documentais, de origem pública ou privada, compreendendo
todo um repertório (de documentos, imagens, prosa, poesia, orações, pinturas,
esculturas, objetos museológicos, depoimentos orais e peças audiovisuais) que
tenham relação com a Guerra do Contestado e, num sentido mais amplo, sobre a
vida, a sociedade e a cultura do planalto meridional brasileiro;
Acreditamos
que é nossa obrigação, como professores, pesquisadores e estudantes, apontar as
questões acima para que nos próximos 100 anos não tenhamos que lamentar a
continuidade de situações de subalterização e marginalização de nossa pobre
população que tanto trabalhou e trabalha para a edificação da nação.
Irani,
22 de outubro de 2012.
Assinam:
Os participantes do Simpósio do Centenário do Movimento do Contestado:
História, Memória, Sociedade e Cultura no Brasil Meridional, 1912 – 2012. Carta
aprovada por aclamação na mesa final da sessão de Chapecó – UFFS.