domingo, 28 de novembro de 2010

UFFS assume Parque Temático do Contestado no Irani

Em visita ao Irani: Vicente Telles Filho, profª Claudia Finger Kratovil, reitor Dilvo Ristoff, Vicente Telles, Delmir Valentini,  José Carlos Radin e o pró-reitor Joviles Trevisol. Foto: Acervo V. Telles.


Por Celso Martins

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com sede em Chapecó-SC, vai assumir o Parque Temático do Contestado, no município de Irani-SC. O interesse da instituição foi confirmado na visita do reitor Dilvo Ristoff à área do Parque na última semana, acompanhado de professores e pesquisadores.

O Parque idealizado pelo arquiteto Ires Lopes da Silva e o músico e folclorista Vicente Telles está com as obras inacabadas, como o palco junto a um lago artificial e arquibancadas nas encostas do morro onde aconteceu o combate de 22 de outubro de 1912 no Irani, início do Contestado.

Segundo o historiador Delmir Valentini, professor da UFFS, a idéia é criar no local um centro de memória, onde poderá funcionar uma unidade de pós-graduação em História, cujo projeto à Capes será encaminhado em março de 2011. O palco será utilizado de forma permanente com produções locais e nacionais e espetáculos de sons e luzes. A área abriga o local do combate e o túmulo do monge José Maria de Castro Agostinho, morto no combate de 1912, além do antigo cemitério e museu. 

O próximo passo será a criação de uma comissão, através de portaria do reitor Dilvo Ristoff, encarregada de elaborar o projeto de aproveitamento da infra-estrutura existente e a criação de outras. De quatro a seis professores da UFFS irão integrar a comissão, além do teatrólogo Romário Borelli, o músico Vicente Telles e o arquiteto Ires Lopes da Silva, entre outras pessoas.

Em depoimento gravado por Vicente Telles, o reitor da UFFS fala da idéia de criação de um grande projeto guarda-chuva, destinado a abrigar iniciativas nas áreas da pesquisa histórica, literatura e música regionais. Ristoff destacou a iniciativa de estabelecer uma "parceria de longo prazo" entre a UFFS e o município do Irani.

  Delmir Valentini

Trecho da área do Parque Temático do Contestado, nas margens da rodovia BR-153

 Museu do Contestado


 

 Túmulo de José Maria

 
Trecho do local do combate de 22 de outubro de 1912


Aspectos do palco inacabado

 
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Paisagem do Irani. Fotos: Celso Martins e Marco Nascimento

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MÚSICO VICENTE TELLES FILHO
VAI TOCAR PIANO EM PORTUGAL

O músico Vicente Telles (Filho) está arrumando as malas rumo à Portugal, onde o aguarda um convite para ser pianista da banda "Função Publika", especializada na animação de bailes e uma das mais famosas do país. Filho do também músico e fonclorista Vicente Telles, Vicentinho domina a moderna tecnologia musical, com apoio de programas e técnicas computacionais.

Confira um pouco dos trabalhos
de Vicentinho e do Função Publika:




domingo, 21 de novembro de 2010

VICENTE TELLES (1)

A voz e a memória dos
caboclos do Contestado


Imagens do trabalho de Vicente Telles: músico, compositor, folclorista, pesquisador das coisas do Contestado e da memória cabocla, incentivador dos estudos sobre o tema e das produções culturais correlatas. Reside em Irani-SC.

As fotos abaixo são de outubro de 2009, no Instituto Federal Catarinense (IFC), Campus Concórdia (Concórdia-SC). Mostram como Telles envolve os participantes no seu trabalho didático-pedagógico que visa estimular o civismo com exemplos dos combatentes do Movimento do Contestado.  
 








segunda-feira, 15 de novembro de 2010

NA AMÉRICA DO SUL

Prisão e penitência
Presença de João Maria
na Argentina de Rosas



Publiquei em postagem anterior que João Maria de Agostini chegara à Argentina por volta de 1830 e lá permanecera por cerca de 14 anos. O professor Paulo Pinheiro Machado leu, ficou em dúvida e entrou em contato com seu colega Alexandre Karsburg* para solicitar esclarecimentos. Karsburg, por sua vez, entrou em contato comigo, questionando a informação, o que me levou a vasculhar as anotações e documentos até descobrir ter cometido um equívoco. Fiz a devida anotação no corpo da própria postagem.

Como a presença de João Maria de Agostinho na Argentina é também (quase totalmente) desconhecida da historiografia brasileira, vamos aos fatos, segundo o professor Alexandre Karsburg, doutorando em História Social da UFRJ, hoje o principal pesquisador da vida e religiosidade do monge no Brasil.
(C.M.)


 Fragmentos do tempo - O que sabemos sobre a chegada de João Maria na região?
Alexandre Karsburg - João Maria de Agostini chegou na América em meados de 1838, partindo de Gênova (Itália) direto para Caracas, na Venezuela. Após isso, o eremita viveu algum tempo na Cordilheira dos Andes, peregrinando de um país para o outro, permanecendo algum tempo na Colômbia, depois Equador e Peru.

FT - E no Brasil?
Karsburg - O monge entrou no Brasil em 1843 via floresta amazônica, pela então vila de Tabatinga. Seguiu o curso dos rios até chegar em Belém, capital da província do Pará, onde tomou o vapor Imperatriz rumo ao Rio de Janeiro. Na capital do Império chegou a 18 de agosto de 1844, e foi habitar no alto do Cerro da Gávea por quatro meses. Em 15 de dezembro tomou outro vapor e foi para Santos. Desta importante cidade portuária subiu a serra, passou rapidamente por São Paulo e foi surgir em Sorocaba no dia 24 de dezembro de 44.

FT - É quando a historiografia brasileira passa a registrá-lo. O que acontece depois?
Karsburg - Após isso perdi a pista dele, encontrando-o novamente em Buenos Aires. Não se sabe se João Maria percorreu a distância entre Sorocaba e Buenos Aires por terra, talvez ele tenha voltado a Santos e dali tomado um vapor para a região platina. O fato é que ele chegou a Buenos Aires - possivelmente em 1845 - e foi se apresentar ao governador Juan Manoel de Rosas para pedir permissão para atuar como pregador do Evangelho. Acabou sendo enviado aos índios charruas que habitavam na fronteira entre Uruguai e Brasil. Como João Maria não era um missionário de índios, antes um pregador ambulante e autônomo, não obteve sucesso com os índios, voltou para Buenos Aires e foi detido por Rosas por desobediência. Foi duro para o italiano conseguir ser posto em liberdade, na verdade, ele não chegou a ficar exatamente preso, mas estava impedido de sair de Buenos Aires sem a permissão do governador.

FT - Mas conseguiu sair...
Karsburg - ...após alguns meses. Rosas concedeu passaporte para a província de Corrientes, no norte da Argentina. E lá se foi o eremita em peregrinação. Só que o italiano passou para o lado brasileiro, entrando no Rio Grande do Sul e estabelecendo moradia em dois cerros: Campestre, em Santa Maria, e no Botucaraí, na época pertencia ao município de Rio Pardo. Nestes dois cerros iniciou a sua trajetória de monge santo, não antes disso. Estamos em meados de 1847.

FT - O que mais pode acrescentar em relação à presença de João Maria na Argentina?

Karsburg - Rosas aceitava perfeitamente a presença de padres, missionários e pregadores em Buenos Aires, contudo, exigia deles algumas tarefas especiais, como ir até tribos indígenas catequizá-los. Acontece que estas tribos se encontravam em território a ser conquistado, fronteiras políticas não definidas, entre Buenos Aires, Corrientes, Entre-Rios (Argentina), República Oriental, Paraguai e Brasil. João Maria foi enviado para catequizar os índios charruas que viviam, em 1845, ao longo do Rio Uruguai, interior da República Oriental e Rio Grande do Sul. Rosas insistia que os missionários agissem como agentes políticos procurando tornar os índios nômades aliados de Buenos Aires. Para alguns missionários europeus foi difícil, quando não impossível, aliar intenções evangélicas com objetivos políticos. João Maria de Agostini não se adaptou a isso, nem ele e nem uma série de capuchinhos italianos e jesuítas que atuavam nos sertões da América do Sul em meados do século XIX.

FT - E a prisão dele?
Karsburg - João Maria esteve impedido de sair de Buenos Aires por um período entre 11 e 14 meses, e isto deve ter ocorrido entre 1845 e 1846. Na verdade, não consegui encontrar documentos que demarcassem o tempo exato de sua detenção em Buenos Aires.

FT - Como conseguiu reunir todas estas informações?

Karsburg - O trabalho do historiador por vezes é dificultado pela falta de fontes. Por sorte nossa, quando o monge esteve auto-exilado na Ilha do Arvoredo, entre dezembro de 1848 e maio de 1849, um sacerdote foi até lá conversar com ele, e desta entrevista produziu um relatório extenso sobre o passado recente de João Maria, inclusive de sua passagem pela Argentina e as desavenças com Rosas. Comparando as informações que o sacerdote apresentou em seu relatório aos depoimentos de dois franceses que também afirmaram terem visto João Maria em Buenos Aires, foi possível chegar às informações de sua estada na região platina. Mas o mais interessante disto foi que o eremita Juan Maria de Agostini, aquele que peregrinou nos desertos dos Estados Unidos entre 1863 e 1869, deixou manuscritos sobre suas viagens pela América. Em um trecho conta ter sido, de início, bem tratado pelo "ditator Rosas", mas este o obrigou a ir "catequizar índios nos pampas". O eremita não menciona sua detenção, mas registrou que saiu de Buenos Aires pelo tratamento "pouco lisonjeiro" de Rosas após seu retorno da catequese dos índios.

 
 *Alexandre Karsburg, autor do livro “Sobre as ruínas da velha matriz: religião e política em tempos de ferrovia” (Editora da UFSM, 2007), possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria, mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e, atualmente, é doutorando em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação da professora Dr. Jacqueline Hermann. No doutorado, desenvolve pesquisa sobre a trajetória do italiano Giovanni Maria de Agostini na América, que ficou conhecido no sul do Brasil como monge João Maria.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Presença norte-americana de João Maria - 1

VASCULHANDO A REDE
 

Começamos as postagens com o túmulo de João Maria de Agostini por algumas razões básicas.
1. O monge, ou "solitário eremita", como se apresentava, parece ter sido o lançador das bases do catolicismo popular que impregnou as populações dos sertões do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, missão continuada por outros monges - a historiografia fala em outros dois, mas existiram vários. Percorrer os meandros dessa religiosidade é importante para a compreensão do que historiadores como Paulo Pinheiro Machado(1) e Maurício Vinhas de Queiroz(2) denominam de Movimento Social do Contestado. Religiosidade que se mantém presente, conforme podemos verificar no estudo indicado abaixo, que tem  base no Evangelho de São João, conforme demonstrado por Ivone Gallo(3). 

2. A historiografia brasileira desconhecia o destino do monge, o local de seu sepultamento. Os que pesquisaram mais detidamente o personagem, como Oswaldo Rodrigues Cabral(4), falam de seu desaparecimento quando estava em Sorocaba-SP, pelo ano de 1860 ou depois. A descoberta pode parecer sem importância, mas não é, uma vez que acrescenta importante elementos ao que se tem sobre Agostini. Assim como acrescenta a informação de que deixou a Europa por volta de 1830, tendo permanecido cerca de 14 anos na Argentina, junto a Rosas, onde cumpriu pena de alguns meses e depois se estalebeceu no Brasil, por volta de 1844*. Os detalhes da presença de João Maria de Agostini em terras argentinas serão abordados oportunamente. Cabe destacar que historiadores brasileiros discutem se Agostini chegou da Itália ao Brasil em 1844 ou antes ou depois. E perdem a pista do mesmo na década de 1860.

* Essa informação não é correta, conforme alerta feito por Alexandre Karsburg e Paulo Pinheiro Machado. O tempo de permanência de José Maria em Buenos Aires foi bem menor. Voltaremos ao tema. (Observado às 23h42 de 13.11.2010).

[O historiador Oswaldo Rodrigues Cabral, que seguiu os rastros do monge no Brasil e produziu trabalho notável, localiza-o no Pará, São Paulo (Sorocaba), Paraná (Lapa), Santa Catarina (Lages) e Rio Grande do Sul (Campestre, em Santa Maria, e Botucaraí, em Candelária), cidades e localidades nas margens do Caminho das Tropas.]

3. O mérito da descoberta do destino norte-americano de João Maria de Agostini é do historiador gaúcho Alexandre de Oliveira Karsburg, feita durante a elaboração de sua tese em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre o tema. Um resumo do estudo pode ser conferido em "O eremita do Novo Mundo: a trajetória de um italiano pelos sertões brasileiros no século XIX". (PDF)

Informa Karsburg: "Depois de ter estado em Sorocaba (2ª vez) e na Lapa, na década de 1850, o eremita deixou o Brasil continuando suas peregrinações pelo continente Americano. Segundo pesquisadores norte-americanos, o eremita Juan Maria de Agostini peregrinou e curou diversas pessoas nos estados do Novo México e no Texas, na década de 1860. Morador do “Cerro Tecolote” (mais tarde tal Cerro passou a se chamar 'Hermit’s Peak'), atraiu centenas que buscavam bênçãos, conselhos e curas, realizando inúmeros prodígios com uma fonte de água localizada em uma gruta (La Cueva) em que também residiu. Somando-se às águas, passou a curar com ervas encontradas na região. Naquele Cerro foi encontrado morto por um grupo de moradores locais, a maior parte ilustres proprietários de terras que eram seus devotos. Seu corpo foi enterrado em um antigo cemitério da cidade de Mesilla, no estado do Novo México, Estados Unidos, e sua lápide continha a seguinte inscrição: 'John Mary Agostiniani– Justiniani, Hermit of the Old and New World. He died the 17th of April, 1869, at 69 years and 49 years a hermit'". Voltaremos a essa presença de João Maria nos EUA.

 
Photo courtesy of NMSU Library Archives and
 Special Collections/New Mexico State University

Notas

1. Paulo Pinheiro Machado escreveu Lideranças do Contestado (Campinas, Ed. da UNICAMP, 2004), resultado de sua tese de doutourado.
 
2. O livro Messianismo e Conflito Social, escrito por Maurício Vinhas de Queiroz, foi lançado inicialmente pela Editora Civilização Brasileira (Rio, 1966), ganhando uma reedição pela Editora Ática, volume 23 da coleção Ensaios (São Paulo, 1981).
 
3. Contestado: O Sonho do Milênio Igualitário, Ivone Gallo (Campinas-SP: Editora da Unicamp, 1999).
 
4. Oswaldo Rodrigues Cabral foi o primeiro historiador catarinense a seguir os rastros de João Maria de Agostini no Sul do Brasil, visitando grutas e fontes, cruzeiros, entrevistando pessoas, recolhendo publicações e fazendo fotografias. Os resultados desse trabalho estão em João Maria (São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1960) e A Campanha do Contestado (Florianópolis: Lunardelli, 1979).
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Planta do Cemitério de Mesilla
(Las Cruces, NM-EUA)
 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O túmulo de João Maria de Agostini

O monge descansa no cemitério de Mesilla (Las Cruces),
no estado norte-americano do Novo México, desde 1869
João Maria de Agostini, apresentado na historiografia como o primeiro monge ligado ao Movimento do Contestado, está sepultado no cemitério de Mesilla (Las Cruces), no Novo México (EUA), onde morreu no dia 17 de abril de 1869, com 69 anos de idade. Italiano nascido por volta de 1801, tornou-se eremita ainda jovem e percorreu diversos países da América do Sul, inclusive o Brasil, antes de chegar aos Estados Unidos. Foi morto com um punhal nas costas.

Conheça as fotos do túmulo de João Maria em Mesilla, feitas por Nayalin Feller para o Fragmentos do Tempo 2, acompanhe o músico Randy Granger tocando na caverna onde o monge se abrigou e confira o monólogo de Larry Torres (Seguindo os passos do Eremita). Com esse material reiniciamos as atividades do blog, destacando temas, debates e reflexões relacionadas com o Movimento Social do Contestado - conflito ocorrido no Sul do Brasil entre os anos de 1912 e 1916.   

João Maria de Agostini ou
Giovanni Maria de Agostini ou
John Mary Justiniano

 
 
 
 


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Halo in the Hermit Cave
Por Randy Granger 



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SUGESTÃO


In the Footsteps of the Hermit 
(Seguindo os passos do Eremita),
monólogo de Larry Torres em inglês.